"Apparicio Silva Rilo se destaca dentro da melhor poesia gauchesca.
Original, inventivo, suas imagens se arredondam nas coxilhas e o ritmo é
um tropel de vigorosos cavalos.
Apparício Silva Rillo, mesmo não sendo são-borjense de nascimento amou a cidade como poucos. Os versos de Apparício Silva Rillo passeiam pelos quatro cantos do Rio Grande - "O maior poeta que São Borja conheceu". http://www.letras.com.br/#!biografia/apparicio-silva-rillo Imagem Internet direitos outorais reservados
Apparício Silva Rillo, mesmo não sendo são-borjense de nascimento amou a cidade como poucos. Os versos de Apparício Silva Rillo passeiam pelos quatro cantos do Rio Grande - "O maior poeta que São Borja conheceu". http://www.letras.com.br/#!biografia/apparicio-silva-rillo Imagem Internet direitos outorais reservados
DE COMO FAZER UMA BRUXINHA DE PANO
Apparicio Silva Rillo
Claro, são necessárias
-embora não fundamentais -
as coisas que chamamos materiais:
-retalhos, sobras de lã,
paina ou palha picada para encher o corpo,
um par de agulhas,
linha branca e preta.
De três cores, pelo menos, o retrós:
-para os olhos, as sobrancelhas e a boca.
Ah, e uma tesoura!
De preferência uma tesoura antiga
dessas de uma parda pátria na lâmina.
Uma tesoura que haja cortado umbigos de criança
entre outros quefazeres das tesouras antigas.
Eis aí o necessário,
o material estritamente necessário
para fazer-se - como se deve fazer -
uma bruxinha de pano.
Lembrem-se
que eu falei antes no fundamental.
Sem a ciência,
sem a riqueza do fundamental
ninguém faz uma bruxinha de pano que se preze.
É preciso coração para fazer uma bruxinha de pano.
É preciso que haja um século de avós,
é preciso que haja um século de mães,
é preciso que haja um século
de velhas empregadas resmungonas,
é preciso que haja um século
de sentimentos de maternidade
para fazer-se,
como se deve fazer,
uma bruxinha de pano.
É preciso mais:
que haja uma herança intemporal de rugas e trabalhos
nas mãos que fazem uma bruxinha de pano.
Que essas mãos venham de outras mãos
hábeis para fazer o pão,
mansas para a ternura e para a reza.
É preciso que frents aos olhos
de quem faz uma bruxinha de pano
haja uns óculos de lentes redondas em seus aros de ouro
onde se possa ver pra dentro
e não apenas para fora.
É preciso que o corpo de quem faz uma bruxinha de pano
resguarde o íntimo calor das reuniões de família
ao redor da grande de jantar
-antigamente.
Claro,
são necessários
mas não fundamentais os materiais.
Ela precisa de alma, a bruxinha,
e alma é tudo o que há pouco alinhavei.
Alma é memória.
uma inscrição na pedra,
uns olhos grandes, uns bigodes no retrato
e o tempo nas feridas da moldura.
Não, não vos arrisqueis a fazer uma bruxinha de pano
se não tiverdes alma para fazer uma bruxinha de pano.
Melhor fareis se comprardes uma boneca de material sintético,
dessas que fazem aos milhares
nas fábricas multinacionais de brinquedos de plástico.
Dessas bonecas que choram,
que riem, que andam e que falam,
tão aparentemente iguais a nós, humanos,
com traços de criança copiados tão perfeitamente
que nem parecem bonecas.
Parecem na verdade,
o que talvez sejamos um dia em nossos netos - criaturas feitas em série,
filhas de provetas,
programadas
por um computador que terá outro nome
que não o nome de Deus.
Ou quem sabe se até nome de Deus,
se os homens forem tão loucos em si
para chegarem tão longe de si,
tão distante de Deus.
-embora não fundamentais -
as coisas que chamamos materiais:
-retalhos, sobras de lã,
paina ou palha picada para encher o corpo,
um par de agulhas,
linha branca e preta.
De três cores, pelo menos, o retrós:
-para os olhos, as sobrancelhas e a boca.
Ah, e uma tesoura!
De preferência uma tesoura antiga
dessas de uma parda pátria na lâmina.
Uma tesoura que haja cortado umbigos de criança
entre outros quefazeres das tesouras antigas.
Eis aí o necessário,
o material estritamente necessário
para fazer-se - como se deve fazer -
uma bruxinha de pano.
Lembrem-se
que eu falei antes no fundamental.
Sem a ciência,
sem a riqueza do fundamental
ninguém faz uma bruxinha de pano que se preze.
É preciso coração para fazer uma bruxinha de pano.
É preciso que haja um século de avós,
é preciso que haja um século de mães,
é preciso que haja um século
de velhas empregadas resmungonas,
é preciso que haja um século
de sentimentos de maternidade
para fazer-se,
como se deve fazer,
uma bruxinha de pano.
É preciso mais:
que haja uma herança intemporal de rugas e trabalhos
nas mãos que fazem uma bruxinha de pano.
Que essas mãos venham de outras mãos
hábeis para fazer o pão,
mansas para a ternura e para a reza.
É preciso que frents aos olhos
de quem faz uma bruxinha de pano
haja uns óculos de lentes redondas em seus aros de ouro
onde se possa ver pra dentro
e não apenas para fora.
É preciso que o corpo de quem faz uma bruxinha de pano
resguarde o íntimo calor das reuniões de família
ao redor da grande de jantar
-antigamente.
Claro,
são necessários
mas não fundamentais os materiais.
Ela precisa de alma, a bruxinha,
e alma é tudo o que há pouco alinhavei.
Alma é memória.
uma inscrição na pedra,
uns olhos grandes, uns bigodes no retrato
e o tempo nas feridas da moldura.
Não, não vos arrisqueis a fazer uma bruxinha de pano
se não tiverdes alma para fazer uma bruxinha de pano.
Melhor fareis se comprardes uma boneca de material sintético,
dessas que fazem aos milhares
nas fábricas multinacionais de brinquedos de plástico.
Dessas bonecas que choram,
que riem, que andam e que falam,
tão aparentemente iguais a nós, humanos,
com traços de criança copiados tão perfeitamente
que nem parecem bonecas.
Parecem na verdade,
o que talvez sejamos um dia em nossos netos - criaturas feitas em série,
filhas de provetas,
programadas
por um computador que terá outro nome
que não o nome de Deus.
Ou quem sabe se até nome de Deus,
se os homens forem tão loucos em si
para chegarem tão longe de si,
tão distante de Deus.
De como fazer uma
bruxinha de pano
Apparicio Silva Rillo
Um diálogo com o
autor!
Apparicio Silva
Rillo, da mesma forma que
outros escritores Rio grandenses, ressalta o compromisso que o
gaúcho, como regionalista, tem em permanecer o mais próximo
possível da sua cultura, enfatizando que não se percam seus hábitos
e, consequentemente, a sua identidade.
[...Questionar de que
modo a produção de um autor incorpora à narrativa ou à poesia
conflitos da sociedade a que se refere o texto é um meio de melhor
compreender como se estabelecem as relações entre estrutura
literária e artística e condicionamento social, o que permite
averiguar a “função” da obra e o seu compromisso com a
realidade. Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Caio
Fernando Abreu são exemplos de escritores que se preocuparam em
discutir literariamente problemas da experiência humana e conflitos
sociais, propondo uma perspectiva singular para a formação e
humanização do homem.]
A obra em estudo formata
o tempo a partir da construção da boneca, presente nas fases em
que Rillo constrói a narrativa. O “pano de fundo” é a magia
presente na bruxinha de pano, passo a passo sendo confeccionada.
Apresenta através da poesia os valores socioculturais que norteiam
parâmetros de vivência das pessoas, principalmente as que
compreendem a vida rural, campesina de nossa região. Esta obra de
arte apresenta todas as características do autor, mas em maior
relevância a humanização.
As fases da narrativa
estabelecem diferentes enfoques, primeiramente, ao citar os materiais
para confecção da bruxinha de pano, configurando a necessidade da
organização e do planejamento que correspondem ao aspecto
material, chamando atenção para a conservação e valorização
de bens. Entre os materiais destaca a tesoura:
“Ah, e uma tesoura!
De preferência uma tesoura antiga
dessas de uma parda pátria na lâmina.
Uma tesoura que haja cortado umbigos de criança
entre outros quefazeres das tesouras antigas.”
De preferência uma tesoura antiga
dessas de uma parda pátria na lâmina.
Uma tesoura que haja cortado umbigos de criança
entre outros quefazeres das tesouras antigas.”
O fato de ser antiga, a
tesoura mostra experiências, aquisições e o referencial histórico
de quem a utiliza. Neste período o autor nos passa a ideia de que
necessitamos, no inicio de nossa vida, de alguém mais experiente
para nortear nossos caminhos, que nos ensine como fazer e
principalmente que garanta nossa sob existência . Retrata o lado
material, da importância ou não da preservação daquilo que
herdamos de nossos ancestrais.
A segunda parte, marca a
instituição dos valores afetivos.
“ É
preciso que haja um século de avós, é preciso que haja um século
de mães, ….
que haja uma herança intemporal de rugas e trabalhos
...” nos remete ao amor materno, zeloso, cuidadoso e
incondicional passados de geração a geração e resultantes de
famílias estruturadas na ética da moral, dos bons costumes e da fé.
“Ela precisa de
alma, a bruxinha,
e alma é tudo o que há pouco alinhavei.
Alma é memória.
uma inscrição na pedra,
uns olhos grandes, uns bigodes no retrato
e o tempo nas feridas da moldura. “
e alma é tudo o que há pouco alinhavei.
Alma é memória.
uma inscrição na pedra,
uns olhos grandes, uns bigodes no retrato
e o tempo nas feridas da moldura. “
Alma e memória,
se referem, respectivamente, a sentimentos e o que deve ser
preservado e perpassados dos ancestrais às gerações futuras.
Corresponde a esta fase, a formação psicossocial, o aspecto
emocional e sua importância na busca da identidade.
A terceira e última
fase, é a aceitação do “novo”, representa a modernidade, as
tecnologias e todas as transformações modificadas pelo tempo, bem
como, o medo de enfrentar os novos paradigmas.
De acordo com a metáfora
empregada, “boneca sintética” sugere a “Mecanização” que
sem dúvida, representa a falta de valores que constituem a formação
de muitas famílias, filhos sem planejamento, pais despreocupados
com os valores básicos, falta de amor, de respeito e experiência na
formação dos filhos.
“Melhor fareis se
comprardes uma boneca de material sintético,
dessas que fazem aos milhares
nas fábricas multinacionais de brinquedos de plástico.
Dessas bonecas que choram,
que riem, que andam e que falam,
tão aparentemente iguais a nós, humanos,
com traços de criança copiados tão perfeitamente
que nem parecem bonecas.”
dessas que fazem aos milhares
nas fábricas multinacionais de brinquedos de plástico.
Dessas bonecas que choram,
que riem, que andam e que falam,
tão aparentemente iguais a nós, humanos,
com traços de criança copiados tão perfeitamente
que nem parecem bonecas.”
A boneca de plástico a
que Apparicio se refere faz alusão a algumas crianças do mundo
moderno, que tudo têm, tudo querem. Inseridas em falsa realidade
composta por pais despreparados, imaturos, voltados às tecnologias
que ao mesmo tempo tudo dá e tudo tira. A realidade faz sentirem-se
vazios e também carentes na sua formação. O autor evidencia a
produção em série, associado ao modelo quase que “epidêmico”
de estilo de vivência, onde tudo se copia, nada se cria. As pessoas
funcionam de forma robotizada, programadas para executarem atividades
e terem atitudes mecanizadas. Externizam padrões que as escravizam
pelo tempo que cobra, que urge, que exige resultados imediatos e
competitivos.
Neste contexto a obra
vem destacar a necessidade de manter valores éticos, de saber criar
os filhos com amor, com ensinamentos herdados dos tempos em que se
sabia o significado dos termos educação e respeito e se aplicavam
como paradigma de vida sociocultural. Destaca, sobretudo, o valor da
família enquanto instituição base de formação do ser humano.
A metáfora da bruxinha
que nada mais é do que a representação das crianças, as novas
gerações se formando e se reinventando através dos tempos.
Esta obra mostra a
preocupação do autor em fazer do leitor um questionador de seu
tempo. Onde estão os valores ancestrais? No baú das vovós ainda se
encontram materiais para fazer uma bruxinha de pano? Ainda há
bruxinhas de pano? Sabemos visualizar as diferenças das bruxinhas de
pano e as tecnológicas sintéticas? Ainda há o que inventariar?
Revisitar o mundo
literário da obra de Apparicio Silva Rillo é estabelecer um
diálogo com ele. O autor conversa com o leitor e neste trabalho
destaca, entre muitos outros ensinamentos a serem implementados, a
necessidade de a criança conviver com a arte na sua formação. É
neste contexto de constituição que o autor busca humanizar, focado
na sensibilidade, na beleza do universo estético que compõe o
aspecto cultural e social em que está inserido. Assim sendo, a
poesia foca à infância e aproxima do indivíduo em formação uma
bagagem de “dicas” fabulosas. Dialoga com o leitor ao mesmo tempo
em que semeia novos saberes, primando pela configuração do ser
como indivíduos sociais e os leva à reflexão do seu meio e à
construção destes saberes no decorrer existencial. A obra é , sem
dúvida alguma, ATEMPORAL.
Professora: Fátima
Rozana Nascimento da Silva
Data: 21/05/2015
Apparicio
Silva Rillo - Paradoxo do tempo
Teclas, letras canções
dígitos, letras canções
terra, enigma amor
herança cultural, Informático
Couro amanonciado
por geração domada
letras parodiadas
povo carente do latente saber
O hoje, tecnologia dominante
anestesiando a criação
dígitos, letras canções
cultura monocromática
do singular ao plural
dígitos, letras canções
tentos e inventos
No minuano a percorrer
No sangue da água do rio
sonhos, anilhas
Se faz ancestral
No sopro sumo da alma
Singular Anguera remanesce
Costumes, tentos e inventos
do hoje vestido de espirito
patrono da alegria à legado de um povo
Como o Índio Generoso
faz o vento bordonear as violas
propagar nas almas
o frenesi da raiz sulina
a ensinar abrir cancelas
do incógnito amanhã
Fátima Rozana Nascimento da silva
Professora
30/03/2015
REPERCUSSÃO
Era uma
vez um poeta
Que se chamava Apparicio
Sua poesia cantava
Impérios de carne, ossos e nervos
Que se chamava Apparicio
Sua poesia cantava
Impérios de carne, ossos e nervos
Herança
das barrancas do Uruguai
Via nas água serpenteadas do rio
sangue, sonhos e dores da alma
Inspirando o novo
É legado de um povo
Via nas água serpenteadas do rio
sangue, sonhos e dores da alma
Inspirando o novo
É legado de um povo
No
galopar e trotar do cavalo
Ainda se escuta a voz do taura
que encurta distância e ameniza saudades
da ancestralidade do gado
Ainda se escuta a voz do taura
que encurta distância e ameniza saudades
da ancestralidade do gado
Energia,
sinergia, calor, fogo
É ser perene nos pedestais da memória
é sinergia em energia do novo de novo
herdado, reinventado e proclamado no novo
É ser perene nos pedestais da memória
é sinergia em energia do novo de novo
herdado, reinventado e proclamado no novo
e
assim;
sopradas pelo vento minuano
“a crioula tradição se retempera e se expande”.
sopradas pelo vento minuano
“a crioula tradição se retempera e se expande”.
Fátima
Rozana Nascimento da Silva
Professora
03/2015